Fotografia Ilustrativa |
José Pedro Araújo
Dando prosseguimento aos casos de tragédias que
abalaram a população de Presidente Dutra, relataremos um caso que, pelo grau de
violência utilizado, extrapolou a tudo o que se vira até então em matéria de
brutalidade. Estou me referindo ao caso da morte de uma passageira em trânsito
pela nossa cidade, caso que chocou a toda a população pela forma como o crime
foi perpetrado.
Recorrendo à minha memória, que já não anda muito em
consonância comigo mesmo, passo a relatar o caso tal qual acredito que tenha
ocorrido:
Já era noite alta quando o empoeirado ônibus
estacionou em frente ao Dormitório e Agência Estrela Dalva, no largo da Bomba. O
motorista decidiu que dormiriam ali, seguindo viagem somente no outro dia muito
cedo, em complemento a viagem até Barra do Corda. A estrada naquela época era
muito ruim, cheia de buracos e atoleiros, e talvez por isto tenha o motorista,
que procedia de São Luís, decidido pernoitar ali mesmo. Algumas pessoas
desceram para jantar e dormir no próprio dormitório, que pertencia a um membro
da família do dono da empresa, mas outros, talvez já sem dinheiro, decidiram
que comeriam alguns biscoitos e depois dormiriam no ônibus mesmo. Entre esses, estava
uma senhora que trazia consigo uma menina ainda pequena, além de um outro
passageiro, homem ainda jovem, que em determinadas ocasiões durante a viagem
aparentava estar muito nervoso.
Quando a noite
já ia muito adiantada, perto das doze horas, ouviu-se um tremendo alarido que
vinha do interior do ônibus. As pessoas que ainda se encontrava acordadas foram
tomadas por um tremendo estupor ao presenciar uma cena verdadeiramente dantesca
que acabava de acontecer. A pobre mulher que havia decidido dormir no coletivo
mesmo saiu correndo porta afora transformada em uma tocha humana. Emitindo um
tremendo alarido, com as vestes completamente incendiadas, a infeliz criatura
arremessou-se para fora e começou a se contorcer e atirou-se no solo, girando sobre
si mesma na tentativa apagar o fogo que a consumia. Transformara-se em uma
verdadeira bola de fogo. Logo algumas pessoas acorreram para ajudar a pobre
infeliz, na tentativa de evitar que o fogo a consumisse inteiramente. E assim,
sem outro instrumento mais eficaz para apagar incêndios, alguns lançavam areia
sobre ela, enquanto que outras jogavam água, até que alguém mais experiente
correu até ela com um cobertor de lã e a cobriu apagando o fogo
instantaneamente. Com queimaduras de 1º e 2º graus por todo o corpo, a pobre
infeliz foi hospitalizada. Mas, diante da gravidade das queimaduras que sofrera
por todo o corpo, não durou muito tempo e veio a falecer. A filha, felizmente, não
foi atingida pelas chamas e escapou com vida, mas fora acometida por violento
trauma por ter presenciado a morte violenta da mãe.
O executor da
tragédia, logo identificado, fora o rapaz que também resolvera pernoitar no
ônibus. Com um pequeno vidro de álcool nas mãos, sem nenhuma discussão, o louco
acercou-se da pobre mulher que dormitava na poltrona, vencida pelo cansaço da
longa viagem, lançou o líquido inflamável sobre ela e depois ateou fogo em suas
vestes.
Nunca se soube
se se tratava de algum louco furioso, ou mesmo de alguém raivoso que tenha
recebido alguma admoestação da vítima durante o período em que viajaram juntos.
O fato é que se tratou de mais uma tragédia sem explicação aparente, que veio a
acontecer em terras presidutrenses.
Menos mal que
o frio assassino foi logo identificado, preso e encaminhado para a
penitenciária de Pedrinhas, em São Luís, de onde não se soube mais nem
noticiais dele. O anônimo assassino contribuiu, contudo, para aumentar o nosso
diário já cheio de tragédias que abalaram a nossa pequena comunidade. O crime
cometido dentro do ônibus da Estrela Dalva, transformando-se este em um dos mais
brutais que o nosso povo já ouviu falar.
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