domingo, 14 de agosto de 2016

ESPECIAL TERESINA 167 Anos - Capítulo 2:

Mapa Colonial de Oeiras 

 José Pedro Araújo

 A reação dos Oeirenses à mudança da capital*


A saída do Presidente da Província, José Antônio Saraiva, na manhã do dia 04 de agosto com toda a sua mudança (ordenanças, tesouro, secretariado, pajens, e possivelmente toda a prataria do palácio), causou terrível alvoroço nos residentes da velha capital. Como das vezes anteriores, os oeirenses acreditavam ser possível reverter a situação e manter a sede do poder administrativo da província na sua cidade, como já havia acontecido antes. Mas a surpresa preparada por Saraiva jogou por terras todas as suas esperanças. A população se alvoroçou e ficou em pé-de-guerra. Os jornais da oposição partiram para o ataque e procuraram sublevar a população, direcionando pesada carga acusatória contra o jovem e intrépido baiano, que por aquele tempo contava com apenas 29 anos de idade. A memória coletiva, sempre ávida por histórias mirabolantes, afirma que o imperador Dom Pedro II, ao saber do imbróglio criado pelo seu nomeado, desaprovou o seu ato, atribuindo o gesto à sua pouca idade, e experiência restrita. Mas, se isso de fato ocorreu, não fez o imperador nada para impedir a transferência da capital de Oeiras para Teresina.
Enquanto isto, a população, estimulada pelos principais opositores à ideia da transferência da capital, e inflamados pelas reportagens virulentas publicadas pelo jornal “Echo Liberal”, revoltou-se e prometeu violenta reação. Estava em andamento uma sedição sem precedentes na breve história da Província do Piauí. Como estavam marcadas eleições para o preenchimento das vagas da Câmara Provincial, e para a escolha dos Juízes de Paz para os quatro anos seguintes, em 7 de setembro, os oposicionistas marcaram para este dia o desfecho do motim. Estavam dispostos a manter a reverter o quadro e, se necessário, tomar o poder pela força. Mas, para isto, teriam que ter o controle do quartel general, além de se apropriar de todo o armamento e munição de que muito necessitavam. Deste modo, desde o dia anterior grupos de homens compostos por 50, 100 e até 200 pessoas, começaram a chegar à cidade. Os opositores pensavam em desfechar o golpe exatamente no dia marcado para as eleições. Contavam com o envolvimento do poder público com o pleito eleitoral, para acertar certeiro golpe nas hostes mudancistas. Mas, não contavam com a astúcia do governo. Na noite do dia 6 de setembro, véspera, portanto, da deflagração do motim, os governistas, alertados pelos seus espiões, puseram um plano de defesa em prática: recolheram ao quartel general toda a munição e as armas, além de todo o efetivo da força pública, e passaram a patrulhar intensamente toda a cidade, demonstrando a força de que ainda dispunha por ali. Ao mesmo tempo, impediram a circulação dos jornais oposicionistas, especialmente o “Echo Liberal”, causando, assim, enorme desnorteamento nas hostes oposicionistas que contavam com o armamento e a munição do governo, além das campanhas de divulgação de suas ideias, para levar a efeito o plano sedicioso. Consta que as eleições do dia seguinte transcorreram em absoluta normalidade. Os oeirenses não encontraram meios para enfrentar o poderio militar governamental.
José Antônio Saraiva, enquanto isto, trabalhava intensamente para instalar a sede da província na Chapada do Corisco, na futura cidade de Teresina. E a partir deste ponto, enviou aos demais presidentes de províncias, o seguinte informe:
“Tenho a honra de comunicar a V. Excia que o Corpo Legislativo Provincial autorizou pela Lei nº 315, de 20 de julho do corrente ano, a transferir a capital desta Província para a nova cidade de Teresina, e que dei já execução a essa lei, pelo que me acho residindo nesta cidade à disposição de V. Excia”.
A transferência das repartições públicas com todo o seu mobiliário, o funcionalismo, e os bens necessários à administração da província, deu-se dentro do período determinado por Saraiva. Enquanto isto, a velha Oeiras caía em profundo sono, desmoronando visivelmente, após perder a importância de outrora. Na nova capital as coisas se davam de modo diferente. Os homens de posse da Vila do Poti já estavam em plena atividade para procederem a sua própria mudança para o novo local escolhido, e erigiam residências luxuosas, quase palácios que, depois, alguns deles cederam ao poder público para a instalação das repartições públicas. Nesse meio tempo, outros prédios públicos iam sendo levantados pelo administrador da província no novo local escolhidos, transformando a Chapada do Corisco, adormecida em sono profundo desde a criação do mundo, em um lugar de frenética atividade. A cidade foi planejada a partir da Igreja do Largo do Amparo, marco inicial da nova capital e ponto de partida de suas ruas e avenidas. No próximo capítulo falaremos um pouco sobre a Vila do Poti, velha povoação situada na confluência deste dreno fluvial com o Parnaíba, e sobre a mudança da sede para a bela Teresina.

* Texto Extraído do Portal Maispiaui.com.

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