Mapa Colonial de Oeiras |
José Pedro Araújo
A reação dos Oeirenses à mudança da capital*
A
saída do Presidente da Província, José Antônio Saraiva, na manhã do dia
04 de agosto com toda a sua mudança (ordenanças, tesouro, secretariado,
pajens, e possivelmente toda a prataria do palácio), causou terrível
alvoroço nos residentes da velha capital. Como das vezes anteriores, os
oeirenses acreditavam ser possível reverter a situação e manter a sede
do poder administrativo da província na sua cidade, como já havia
acontecido antes. Mas a surpresa preparada por Saraiva jogou por terras
todas as suas esperanças. A população se alvoroçou e ficou em
pé-de-guerra. Os jornais da oposição partiram para o ataque e procuraram
sublevar a população, direcionando pesada carga acusatória contra o
jovem e intrépido baiano, que por aquele tempo contava com apenas 29
anos de idade. A memória coletiva, sempre ávida por histórias
mirabolantes, afirma que o imperador Dom Pedro II, ao saber do imbróglio
criado pelo seu nomeado, desaprovou o seu ato, atribuindo o gesto à sua
pouca idade, e experiência restrita. Mas, se isso de fato ocorreu, não
fez o imperador nada para impedir a transferência da capital de Oeiras
para Teresina.
Enquanto
isto, a população, estimulada pelos principais opositores à ideia da
transferência da capital, e inflamados pelas reportagens virulentas
publicadas pelo jornal Echo Liberal, revoltou-se e prometeu violenta
reação. Estava em andamento uma sedição sem precedentes na breve
história da Província do Piauí. Como estavam marcadas eleições para o
preenchimento das vagas da Câmara Provincial, e para a escolha dos
Juízes de Paz para os quatro anos seguintes, em 7 de setembro, os
oposicionistas marcaram para este dia o desfecho do motim. Estavam
dispostos a manter a reverter o quadro e, se necessário, tomar o poder
pela força. Mas, para isto, teriam que ter o controle do quartel
general, além de se apropriar de todo o armamento e munição de que muito
necessitavam. Deste modo, desde o dia anterior grupos de homens
compostos por 50, 100 e até 200 pessoas, começaram a chegar à cidade. Os
opositores pensavam em desfechar o golpe exatamente no dia marcado para
as eleições. Contavam com o envolvimento do poder público com o pleito
eleitoral, para acertar certeiro golpe nas hostes mudancistas. Mas, não
contavam com a astúcia do governo. Na noite do dia 6 de setembro,
véspera, portanto, da deflagração do motim, os governistas, alertados
pelos seus espiões, puseram um plano de defesa em prática: recolheram ao
quartel general toda a munição e as armas, além de todo o efetivo da
força pública, e passaram a patrulhar intensamente toda a cidade,
demonstrando a força de que ainda dispunha por ali. Ao mesmo tempo,
impediram a circulação dos jornais oposicionistas, especialmente o Echo
Liberal, causando, assim, enorme desnorteamento nas hostes
oposicionistas que contavam com o armamento e a munição do governo, além
das campanhas de divulgação de suas ideias, para levar a efeito o plano
sedicioso. Consta que as eleições do dia seguinte transcorreram em
absoluta normalidade. Os oeirenses não encontraram meios para enfrentar o
poderio militar governamental.
José
Antônio Saraiva, enquanto isto, trabalhava intensamente para instalar a
sede da província na Chapada do Corisco, na futura cidade de Teresina. E
a partir deste ponto, enviou aos demais presidentes de províncias, o
seguinte informe:
Tenho
a honra de comunicar a V. Excia que o Corpo Legislativo Provincial
autorizou pela Lei nº 315, de 20 de julho do corrente ano, a transferir a
capital desta Província para a nova cidade de Teresina, e que dei já
execução a essa lei, pelo que me acho residindo nesta cidade à
disposição de V. Excia.
A
transferência das repartições públicas com todo o seu mobiliário, o
funcionalismo, e os bens necessários à administração da província,
deu-se dentro do período determinado por Saraiva. Enquanto isto, a velha
Oeiras caía em profundo sono, desmoronando visivelmente, após perder a
importância de outrora. Na nova capital as coisas se davam de modo
diferente. Os homens de posse da Vila do Poti já estavam em plena
atividade para procederem a sua própria mudança para o novo local
escolhido, e erigiam residências luxuosas, quase palácios que, depois,
alguns deles cederam ao poder público para a instalação das repartições
públicas. Nesse meio tempo, outros prédios públicos iam sendo levantados
pelo administrador da província no novo local escolhidos, transformando
a Chapada do Corisco, adormecida em sono profundo desde a criação do
mundo, em um lugar de frenética atividade. A cidade foi planejada a
partir da Igreja do Largo do Amparo, marco inicial da nova capital e
ponto de partida de suas ruas e avenidas. No próximo capítulo falaremos
um pouco sobre a Vila do Poti, velha povoação situada na confluência
deste dreno fluvial com o Parnaíba, e sobre a mudança da sede para a
bela Teresina.
* Texto Extraído do Portal Maispiaui.com.
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