Oeiras, anos 50 - Foto de autoria desconhecida |
José Pedro Araújo
Capítulo 1 - Como Nasceu a Filha Querida do Piauí
A Difícil
Transferência da Capital
Na semana em que Teresina
comemora seus 167 anos de fundação, o MAISPIAUI.COM publicará uma série de
reportagens resumidas sobre o nascimento, a transferência e o desenvolvimento
desta cidade que, mesmo não tendo nascido nos primórdios da colonização do
estado, transformou-se na belíssima e aconchegante capital de todos os
piauienses.
A história registra que o
primeiro mandatário a sugerir a transferência da sede administrativa e política
da Província do Piauí de Oeiras para a região do Poti/Parnaíba, foi o Governador
e Capitão-General da Província do Maranhão, João da Maia da Gama, em 1728.
Aliás, nem chefe da Província vizinha ele era mais, uma vez que já fora
substituído por outro governante, Alexandre de Sousa Freire. Maia da Gama, após
entregar o cargo ao sucessor, resolveu visitar o restante da Província ao
realizar viagem de regresso a Portugal, passando pelos sertões do Piauí, por
este tempo ainda integrante do Maranhão. Ao chegar às margens do Parnaíba, onde
o Poti tem a sua foz, encontrou ali local ideal para a formação de uma vila. E
animado com a fartura de água, peixe, mas também com a riqueza das terras
circunvizinhas, fez ver ao imperador, no seu consagrado documento intitulado Diário da Viagem de Regresso para o Reino,
ser aquele ponto de melhor localização para se estabelecer uma povoação que
facilitasse o comércio na nova província que se previa. E assim que ele
registrou em seu Diário: “...as riquezas naturais do lugar, com abundância de
peixes, matas repletas de madeiras de lei, com a fartura de vazantes e grandes
plantios de cana”.
De outro modo, já em Oeiras, após
o reconhecimento dos seus arredores, ele elencava as dificuldades vivenciadas
pela Vila da Mocha(Oeiras): “... e ver os arredores da Vila todos
agrestes e sem terras e sem madeiras e falta total de peixe lhes propus não a
extinção da dita vila, mas a ereção de outra na beira do Parnaíba aonde faz
barra o rio Poti...”
A história nos mostra que nada do
que Maia da Gama escreveu em seu relatório foi levado em consideração. Tanto
por falta de interesse dos mandatários da coroa portuguesa, quanto em
decorrência dos custos que adviriam com a transferência da sede administrativa e
sua fixação em um local dependente de tudo, até mesmo de instalações físicas. E
o que o ex-governador capitão-general diagnosticou, levou mais de um século
para acontecer. Mais precisamente 124 anos.
Nesse meio tempo, foram muitas as
tentativas de transferência da capital de Oeiras para outra parte, sob a
alegação de que a Província precisava de um local mais adequado, com melhor
situação geográfica e melhor servido de água e terras propícias à produção de
alimento. Alguns advogavam ser a região de São Gonçalo (Amarante) a ideal, pela
sua localização central, mas também por se situar muito próxima ao rio
Parnaíba, única e viável via de acesso aos diversos pontos da província.
Outros, contudo, defendiam a vila da Parnaíba, pela sua localização próxima ao
litoral, mas também pela infraestrutura que já possuía à época. Entretanto, os
homens de mando, por residirem em Oeiras, advogavam a permanência da sede da
província ali mesmo naquela cidade. Foi uma luta difícil. Em agosto de 1798, o
Presidente da Província, D. João de Amorim Pereira, sugeriu ao Ministro de Ultramar
que a capital fosse instalada na Vila de Parnaíba ou transferida para uma
promissora povoação “localizada na embocadura do rio Poti com o rio Parnaíba”.
Em agosto de 1849, cinquenta anos
depois, o Governador da Província, Anselmo Peretti, através de lei, determinou
a transferência da capital, mas o seu sucessor, Inácio Francisco da Matta,
anulou-a e determinou a permanência da sede da província em Oeiras.
Foi preciso a nomeação de um
baiano jovem e idealista para tomar a inadiável decisão de procurar um lugar
ideal para ali estabelecer a capital: José Antônio Saraiva. Mas não foi uma
decisão fácil de ser implementada, situação já mostrada anteriormente. Oeiras
contava com gente poderosa e com largo prestígio na capital do império, gente
que tinha toda a sua base econômica fincada no entorno do território da velha
Mocha. E por conta disso, ofereciam feroz resistência à mudança. Alguns
historiadores registram que Saraiva somente sancionou a Lei nº 315, que
determinou a mudança da capital, quando se encontrava fora da cidade, já
viajando para a Vila Nova do Poti. Mas não foi bem assim. A Lei nº 315, de 16
de agosto de 1852, foi votada e sancionada no dia 20 de julho, e Saraiva,
demonstrando espírito forte e incontestável bravura, determinou seu imediato
cumprimento. Sabia ele que, caso não adotasse providências urgentes, correria
sério risco de isso nunca ocorrer. Como já havia acontecido antes.
E assim, determinou o envio de
alguns escravos artífices das Fazendas Estaduais para a Vila do Poti, como
também a transferência do Corpo de Educadores Artífices. Ele também marcou a
sua viagem para Teresina para a madrugada do dia 4 de agosto. Procurava
aproveitar uma hora mais fresca do dia para iniciar a longa travessia de Oeiras
até a confluência dos rios Parnaíba e Poty. Saraiva também procurou sair de
Oeiras em uma hora em que a população da velha capital ainda estivesse
dormindo, para evitar constrangimentos ou coisa pior.
A população de Oeiras, sobretudo
a classe política, não digeriu bem a mudança, como veremos no próximo capítulo.
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