sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Teresina - Especial 167 Anos

Oeiras, anos 50 - Foto de autoria desconhecida

José Pedro Araújo

Capítulo 1 - Como Nasceu a Filha Querida do Piauí



A Difícil Transferência da Capital


Na semana em que Teresina comemora seus 167 anos de fundação, o MAISPIAUI.COM publicará uma série de reportagens resumidas sobre o nascimento, a transferência e o desenvolvimento desta cidade que, mesmo não tendo nascido nos primórdios da colonização do estado, transformou-se na belíssima e aconchegante capital de todos os piauienses. 

A história registra que o primeiro mandatário a sugerir a transferência da sede administrativa e política da Província do Piauí de Oeiras para a região do Poti/Parnaíba, foi o Governador e Capitão-General da Província do Maranhão, João da Maia da Gama, em 1728. Aliás, nem chefe da Província vizinha ele era mais, uma vez que já fora substituído por outro governante, Alexandre de Sousa Freire. Maia da Gama, após entregar o cargo ao sucessor, resolveu visitar o restante da Província ao realizar viagem de regresso a Portugal, passando pelos sertões do Piauí, por este tempo ainda integrante do Maranhão. Ao chegar às margens do Parnaíba, onde o Poti tem a sua foz, encontrou ali local ideal para a formação de uma vila. E animado com a fartura de água, peixe, mas também com a riqueza das terras circunvizinhas, fez ver ao imperador, no seu consagrado documento intitulado Diário da Viagem de Regresso para o Reino, ser aquele ponto de melhor localização para se estabelecer uma povoação que facilitasse o comércio na nova província que se previa. E assim que ele registrou em seu Diário: “...as riquezas naturais do lugar, com abundância de peixes, matas repletas de madeiras de lei, com a fartura de vazantes e grandes plantios de cana”.

De outro modo, já em Oeiras, após o reconhecimento dos seus arredores, ele elencava as dificuldades vivenciadas pela Vila da Mocha(Oeiras):  “... e ver os arredores da Vila todos agrestes e sem terras e sem madeiras e falta total de peixe lhes propus não a extinção da dita vila, mas a ereção de outra na beira do Parnaíba aonde faz barra o rio Poti...”

A história nos mostra que nada do que Maia da Gama escreveu em seu relatório foi levado em consideração. Tanto por falta de interesse dos mandatários da coroa portuguesa, quanto em decorrência dos custos que adviriam com a transferência da sede administrativa e sua fixação em um local dependente de tudo, até mesmo de instalações físicas. E o que o ex-governador capitão-general diagnosticou, levou mais de um século para acontecer. Mais precisamente 124 anos.

Nesse meio tempo, foram muitas as tentativas de transferência da capital de Oeiras para outra parte, sob a alegação de que a Província precisava de um local mais adequado, com melhor situação geográfica e melhor servido de água e terras propícias à produção de alimento. Alguns advogavam ser a região de São Gonçalo (Amarante) a ideal, pela sua localização central, mas também por se situar muito próxima ao rio Parnaíba, única e viável via de acesso aos diversos pontos da província. Outros, contudo, defendiam a vila da Parnaíba, pela sua localização próxima ao litoral, mas também pela infraestrutura que já possuía à época. Entretanto, os homens de mando, por residirem em Oeiras, advogavam a permanência da sede da província ali mesmo naquela cidade. Foi uma luta difícil. Em agosto de 1798, o Presidente da Província, D. João de Amorim Pereira, sugeriu ao Ministro de Ultramar que a capital fosse instalada na Vila de Parnaíba ou transferida para uma promissora povoação “localizada na embocadura do rio Poti com o rio Parnaíba”.

Em agosto de 1849, cinquenta anos depois, o Governador da Província, Anselmo Peretti, através de lei, determinou a transferência da capital, mas o seu sucessor, Inácio Francisco da Matta, anulou-a e determinou a permanência da sede da província em Oeiras.

Foi preciso a nomeação de um baiano jovem e idealista para tomar a inadiável decisão de procurar um lugar ideal para ali estabelecer a capital: José Antônio Saraiva. Mas não foi uma decisão fácil de ser implementada, situação já mostrada anteriormente. Oeiras contava com gente poderosa e com largo prestígio na capital do império, gente que tinha toda a sua base econômica fincada no entorno do território da velha Mocha. E por conta disso, ofereciam feroz resistência à mudança. Alguns historiadores registram que Saraiva somente sancionou a Lei nº 315, que determinou a mudança da capital, quando se encontrava fora da cidade, já viajando para a Vila Nova do Poti. Mas não foi bem assim. A Lei nº 315, de 16 de agosto de 1852, foi votada e sancionada no dia 20 de julho, e Saraiva, demonstrando espírito forte e incontestável bravura, determinou seu imediato cumprimento. Sabia ele que, caso não adotasse providências urgentes, correria sério risco de isso nunca ocorrer. Como já havia acontecido antes.

E assim, determinou o envio de alguns escravos artífices das Fazendas Estaduais para a Vila do Poti, como também a transferência do Corpo de Educadores Artífices. Ele também marcou a sua viagem para Teresina para a madrugada do dia 4 de agosto. Procurava aproveitar uma hora mais fresca do dia para iniciar a longa travessia de Oeiras até a confluência dos rios Parnaíba e Poty. Saraiva também procurou sair de Oeiras em uma hora em que a população da velha capital ainda estivesse dormindo, para evitar constrangimentos ou coisa pior.

A população de Oeiras, sobretudo a classe política, não digeriu bem a mudança, como veremos no próximo capítulo.

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