segunda-feira, 18 de maio de 2015

POR QUEM OS SINOS DOBRAM?


                                                                                                                      (Chico Acoram)*


O nobre escritor e cronista José Pedro Araújo Filho, amigo dileto, sempre reclama que devo escrever com mais frequência sobre os mais variados temas em forma de contos ou crônicas. Diz-me, também, que tenho muita preguiça para escrever. Nesse ponto, meu amigo tem toda razão. Os poucos escritos (contos e poesias) de minha autoria foram redigidos, realmente, por obra de um extremo esforço, aliado a uma rara inspiração que me acomete vez por outra.
Lembrando-me dessa assertiva, prometi a mim mesmo que qualquer dia desses tentaria escrever uma crônica sobre um assunto interessante que me viesse à mente. Pois bem, promessa é dívida.
Outro dia, lendo uma crônica “Sinos da Minha Aldeia”, de autoria do amigo acima citado (publicada no seu blog Folhas Avulsas), onde descreve com maestria a origem dos sinos da Igreja de São Sebastião na cidade de Presidente Dutra, do vizinho Estado do Maranhão. Salientando sua curiosidade, acabou descobrindo de onde esses instrumentos sonoros tinham vindos. Veio-me então a ideia de escrever algo sobre tema parecido.    
Depois que li essa interessante narrativa, brotou-me abruptamente do fundo do meu consciente (ou talvez do inconsciente), a seguinte frase em letra do tipo negrito itálico, caixa alta: POR QUEM OS SINOS DOBRAM?  Essa frase martelou minha cabeça por algumas horas sem que eu soubesse o motivo da lembrança dessa interrogativa. Indaguei a mim mesmo se a frase seria algum título de filme que tinha visto há muito tempo, ou talvez o nome de um livro, ou até mesmo de um provérbio. Apesar do esforço mental, a resposta foi negativa.
Diante disso, resolvi consultar a melhor enciclopédia do mundo, o pai moderno de todos os burros, a oitava maravilha do mundo, ou seja, a Internet, através de uma lâmpada mágica conhecida como Google. Espetacular! Digitei referida frase nesse aplicativo tendo como resultado da pesquisa uma agradável surpresa. Descobri que a frase acima mencionada   refere-se a uma parte do célebre trecho que abre um romance do cético escritor inglês Ernest Hemingway com o título “Por Quem os sinos Dobram”. O livro foi publicado em 1940, e recebeu versão para o cinema três anos depois sob a direção de Sam Woods e roteiro de Dudley Nichols. Obteve um Oscar de melhor atriz coadjuvante (Katina Paxinou) e indicação para mais oito categorias, entre elas a de melhor filme.
Diz ainda a pesquisa que Ernest Hemingway, apesar de cético, tinha muita influência do escritor e clérigo anglicano John Donne que redigiu em sua “Meditação 17” o famoso trecho: “Nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”. A citação de Hemingway no seu livro é mais do que uma simples referência; talvez esteja mais para deferência, ou até reverência. De acordo com a pesquisa, isso chega a ser uma ironia, pois Donne, um dos principais arquitetos do pensamento de Hemingway, esteve “no porão” até seu reaparecimento, no preâmbulo de “Por quem os Sinos Dobram”. Assim, Donne tornou-se, portanto, o arauto contemporâneo de voz importante, mas esquecida, de séculos atrás.
Revela a mesma pesquisa que, embora de formas diferentes, Donne e Hemingway tinham em si a chama do existencialismo. Jonh Donne, especialmente no período em que produziu as “Meditações”, quando esteve acometido de uma doença grave, dialogou com a morte em seus escritos.
Por outro lado, fiquei sabendo também que o trecho “Por quem os Sinos Dobram” influenciaria também o pensamento de um controverso e genial artista brasileiro, Raul Seixas, que batizou seu 9º álbum – e uma de suas canções – com esse título. Assim como Donne e Hemingway, o famoso roqueiro baiano também tinha, em toda a sua obra, uma dialética particular com a morte, o que fica explícito em “Canto Para a Minha Morte” que em resumo se destaca:
(“...vou te encontrar vestida de cetim/Pois em qualquer lugar esperas só por mim/E no teu beijo provar o gosto estranho que eu quero e não desejo,/mas tenho que encontrar ...”).
Com relação ao filme “Por Quem os Sinos Dobram” (For Whom the Bell Tolls), é do gênero aventura, drama e história, produzido nos Estados Unidos em 1943 e estreado em 28/04/1944. A sinopse do filme retrata fatos da Guerra Civil da Espanha, nos anos 30 do século passado, onde o idealista Robert Jordan (Gary Cooper) se engaja no conflito para defender os princípios de liberdade e democracia, e que em uma missão de altíssimo risco, ele aguarda o melhor momento de explodir uma ponte de importância vital para as tropas inimigas. Neste cenário de idealismos e tensões quase insuportáveis, a mística Pilar, líder das forças da resistência civil, encoraja a bela e jovem Maria (Ingrid Bergman) a ajudar Robert em sua missão. Durante uma noite debaixo das estrelas, o medo da morte e a possibilidade do amor caminham lado a lado, em pleno horror da guerra.
Consultando a sinopse desse filme no Google, dirigi-me o mais rápido possível para uma locadora próxima a minha casa e, para meu desapontamento, me informaram não dispor de tal película. Então, recorri ao meu genro Gilson que gentilmente baixou e gravou referido filme pela Internet. Assistir ao filme “Por Quem os Sinos Dobram” foi meu divertimento principal do final de semana. Não me arrependi. O filme é fantástico. Um dos melhores que já vi, embora este tenha sido produzido em Tecnicolor.
Em suma: depois que li a crônica “Sinos da Minha Aldeia” não é que tive a felicidade de assistir a um grande clássico do cinema internacional! 

* Chico Acoram é Contador, Funcionário Público Federal, contista e poeta.






2 comentários:

  1. Chico Acoram Araújo19 de agosto de 2018 às 22:37

    Minha primeira e audaciosa crônica. Depois dessa me atrevi a escrever outras em mares nunca navegado.

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