(Chico Acoram)*
O nobre
escritor e cronista José Pedro Araújo Filho, amigo dileto, sempre reclama que
devo escrever com mais frequência sobre os mais variados temas em forma de
contos ou crônicas. Diz-me, também, que tenho muita preguiça para escrever.
Nesse ponto, meu amigo tem toda razão. Os poucos escritos (contos e poesias) de
minha autoria foram redigidos, realmente, por obra de um extremo esforço,
aliado a uma rara inspiração que me acomete vez por outra.
Lembrando-me
dessa assertiva, prometi a mim mesmo que qualquer dia desses tentaria escrever
uma crônica sobre um assunto interessante que me viesse à mente. Pois bem, promessa é
dívida.
Outro dia,
lendo uma crônica “Sinos da Minha Aldeia”, de autoria do amigo acima citado (publicada
no seu blog Folhas Avulsas), onde descreve com maestria a origem dos sinos da
Igreja de São Sebastião na cidade de Presidente Dutra, do vizinho Estado do
Maranhão. Salientando sua curiosidade, acabou descobrindo de onde esses
instrumentos sonoros tinham vindos. Veio-me então a ideia de escrever algo
sobre tema parecido.
Depois que li essa
interessante narrativa, brotou-me abruptamente do fundo do meu consciente (ou
talvez do inconsciente), a seguinte frase em letra do tipo negrito itálico, caixa
alta: POR QUEM OS SINOS DOBRAM? Essa frase martelou minha cabeça por algumas
horas sem que eu soubesse o motivo da lembrança dessa interrogativa. Indaguei a
mim mesmo se a frase seria algum título de filme que tinha visto há muito
tempo, ou talvez o nome de um livro, ou até mesmo de um provérbio. Apesar do
esforço mental, a resposta foi negativa.
Diante disso,
resolvi consultar a melhor enciclopédia do mundo, o pai moderno de todos os
burros, a oitava maravilha do mundo, ou seja, a Internet, através de uma
lâmpada mágica conhecida como Google. Espetacular! Digitei referida frase nesse
aplicativo tendo como resultado da pesquisa uma agradável surpresa. Descobri
que a frase acima mencionada refere-se a uma parte do célebre trecho que
abre um romance do cético escritor inglês Ernest Hemingway com o título “Por
Quem os sinos Dobram”. O livro foi publicado em 1940, e recebeu versão para o cinema três
anos depois sob a direção de Sam Woods e roteiro de Dudley Nichols. Obteve
um Oscar de melhor atriz coadjuvante (Katina Paxinou) e indicação para mais
oito categorias, entre elas a de melhor filme.
Diz ainda a
pesquisa que Ernest Hemingway, apesar de cético, tinha muita influência do
escritor e clérigo anglicano John Donne que redigiu em sua “Meditação 17” o famoso
trecho: “Nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”. A
citação de Hemingway no seu livro é mais do que uma simples referência; talvez
esteja mais para deferência, ou até reverência. De acordo com a pesquisa,
isso chega a ser uma ironia, pois Donne, um dos principais arquitetos do
pensamento de Hemingway, esteve “no porão” até seu reaparecimento, no preâmbulo
de “Por quem os Sinos Dobram”. Assim, Donne tornou-se, portanto, o arauto
contemporâneo de voz importante, mas esquecida, de séculos atrás.
Revela a mesma
pesquisa que, embora de formas diferentes, Donne e Hemingway tinham em si a
chama do existencialismo. Jonh Donne, especialmente no período em que produziu
as “Meditações”, quando esteve acometido de uma doença grave, dialogou com a
morte em seus escritos.
Por outro
lado, fiquei sabendo também que o trecho “Por quem os Sinos Dobram”
influenciaria também o pensamento de um controverso e genial artista
brasileiro, Raul Seixas, que batizou seu 9º álbum – e uma de suas canções – com
esse título. Assim como Donne e Hemingway, o famoso roqueiro baiano também
tinha, em toda a sua obra, uma dialética particular com a morte, o que fica
explícito em “Canto Para a Minha Morte” que em resumo se destaca:
(“...vou te
encontrar vestida de cetim/Pois em qualquer lugar esperas só por mim/E no teu
beijo provar o gosto estranho que eu quero e não desejo,/mas tenho que
encontrar ...”).
Com relação ao
filme “Por Quem os Sinos Dobram” (For Whom the Bell Tolls), é do gênero
aventura, drama e história, produzido nos Estados Unidos em 1943 e estreado em
28/04/1944. A sinopse do filme retrata fatos da Guerra Civil da Espanha, nos
anos 30 do século passado, onde o idealista Robert Jordan (Gary Cooper) se
engaja no conflito para defender os princípios de liberdade e democracia, e que
em uma missão de altíssimo risco, ele aguarda o melhor momento de explodir uma
ponte de importância vital para as tropas inimigas. Neste cenário de idealismos
e tensões quase insuportáveis, a mística Pilar, líder das forças da resistência
civil, encoraja a bela e jovem Maria (Ingrid Bergman) a ajudar Robert em sua
missão. Durante uma noite debaixo das estrelas, o medo da morte e a
possibilidade do amor caminham lado a lado, em pleno horror da guerra.
Consultando a
sinopse desse filme no Google, dirigi-me o mais rápido possível para uma
locadora próxima a minha casa e, para meu desapontamento, me informaram não
dispor de tal película. Então, recorri ao meu genro Gilson que gentilmente
baixou e gravou referido filme pela Internet. Assistir ao filme “Por Quem os
Sinos Dobram” foi meu divertimento principal do final de semana. Não me
arrependi. O filme é fantástico. Um dos melhores que já vi, embora este
tenha sido produzido em Tecnicolor.
Em suma: depois
que li a crônica “Sinos da Minha Aldeia” não é que tive a felicidade de
assistir a um grande clássico do cinema internacional!
* Chico Acoram é Contador, Funcionário Público Federal, contista e poeta.
Minha primeira e audaciosa crônica. Depois dessa me atrevi a escrever outras em mares nunca navegado.
ResponderExcluirE mandou bem, Chico Carlos!
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