Antiga Igreja de Santo Antonio do Surubim - Campo Maior/PI |
Cronista, contista e funcionário público federal.
O
ilustre poeta e escritor Elmar Carvalho em seu livro “Bernardo de Carvalho, o
Fundador de Bitorocara”, capítulo III (A LOCALIZAÇÃO DA FAZENDA BITOROCARA),
sustenta que, - assim como todos os maiores historiadores do Piauí -, a fazenda
Bitorocara localizava-se realmente nas imediações dos rios Longá e Surubim. Assim,
pode se aferir que a origem do nome da fazenda de Bernardo de Carvalho decorreu
do fato de que esta propriedade estava localizada próximo ao rio Bitorocara,
hoje Longá. Para provar a existência dessa propriedade, Elmar Carvalho recorre
várias vezes ao padre Cláudio Melo, considerado um dos maiores historiadores do
Piauí. No mencionado capítulo III do seu livro, o escritor destaca alguns comentários
de Cláudio Melo, como o que a seguir
transcrevo:
“Todos
os maiores historiadores do Piauí afirmam haver existido a fazenda Bitorocara e
seu fundador Bernardo de Carvalho Aguiar, a começar pelo mais antigo, o padre
Miguel de Carvalho, em sua descrição do Sertão do Piauí, datada de 2 de março
de 1697. Quase todos admitem que essa propriedade ficava situada em Campo
Maior. E como exceção ou voz discordante, um ou outro admite haver dúvida a
esse respeito. (...)”.
“De início, eu supunha que o riacho
Bitorocara era o Surubim, em razão de a Fazenda Bitorocara ser a atual cidade
de Campo Maior. A descoberta da sesmaria de Dâmaso Pinheiro de Carvalho, nas
cabeceiras do riacho Cobras, me fez ver que Cobras é o Surubim, Bitorocara,
portanto, ou seria o Longá ou o Jenipapo. Surgiu em mim um impasse: a fazenda
Serra fica no Longá e o Jatobá no Jenipapo. Como os limites da fazenda Serra
não atingem o Jenipapo, mas os limites da fazenda Jatobá podiam chegar até o
Longá, concluí, por fim, que Bitorocara seria o Longá. A fazenda Bitorocara se
expandia pelos três rios, e ela estava na confluência deles. ”
Assim, pelos
comentários e explicações de Pe. Cláudio Melo, indubitavelmente, não há dúvidas
quanto à existência do rio Bitorocara e a fazenda de mesmo nome, encravada em
suas imediações, em cujo entorno se formou um arraial (inicialmente militar)
onde foi construída a igreja de Santo Antônio do Surubim, hoje a atual cidade
de Campo Maior.
Por sua vez, falando sobre a existência de
Bitorocara, o prestigiado escritor João Alves Filho, Presidente da Academia
Campomaiorense de Artes e Letras – ACALE, em palestra proferida sobre os 300
anos da igreja de Santo Antônio, disse que “o português Bernardo de Carvalho e
Aguiar, quando aqui chegou, no ano de 1692, encantou-se com os recursos
naturais e com a beleza do lugar. Inicialmente, fundou seu primeiro curral em
local que deu o nome de “Cabeça do Tapuio”, hoje município de São Miguel do
Tapuio. Em seguida, com o propósito de conquistar novas terras, no ano de 1695,
instala uma nova fazenda na confluência dos rios Longá e Surubim, dando o nome
de Bitorocara em homenagem a uma cidade de Portugal. Disse ainda que Bernardo
de Carvalho e Aguiar, depois de um ano residindo nesse lugar, recebeu a visita
do Padre Miguel de Carvalho, que instalara a Freguesia da Mocha, hoje, a cidade
de Oeiras, com o objetivo de ampliar suas atividades religiosas na região.
João Alves
relata também que em 1710, Bernardo de Carvalho e Aguiar recebe a visita do
Padre Tomé de Carvalho, e toma a decisão “de dividir seu rebanho, construindo
em Bitorocara uma igreja, por se encontrar a região, a 600 quilômetros da Vila
Mocha”. Bernardo de Carvalho e Aguiar como bom religioso deu ao Pe. Tomé todo o
apoio material e humano para a construção da primeira igreja às margens do
Longá e do Surubim, e a deu por invocação ao Glorioso Santo Antônio de Pádua. A
solenidade de inauguração da igreja, celebração da primeira missa e instalação da imagem de Santo Antônio,
aconteceu no dia 12 de novembro do ano de 1712.
No livro
Bernardo de Carvalho O Fundador de Bitorocara, Elmar Carvalho lembra que o
romancista e historiador Afonso Ligório Pires de Carvalho destacou que o padre
Cláudio Melo adquiriu a certeza de que Campo Maior teve a sua origem a partir da
fazenda Bitorocara ao ler o testamento de Miguel de Carvalho e Aguiar, filho de
Bernardo de Carvalho.
Por outro
lado, o ilustre escritor e poeta anexa como prova de que Bitorocara é a atual
cidade de Campo Maior, o fato de a antiga igreja de Santo Antônio do Surubim ter
sido construída por Bernardo de Carvalho Aguiar e batizada em 12.11.1712, a
pedido de seu sobrinho, o Pe. Tomé de Carvalho, argumentando ainda que as
igrejas de antigamente sempre eram construídas pelos fazendeiros nas
proximidades da casa-grande ou residência, em terras de sua propriedade ou
posse. E a igreja de Santo Antônio do Surubim não poderia ser diferente, daí a
convicção de que esta foi construída em suas terras, próximas aos rios Longá e
Surubim.
Há, no
entanto, quem pense diferente. Em recente trabalho publicado por um autor
campomaiorense ele afirma que a Fazenda Bitorocara não estava localizada em
Campo Maior, mas nas proximidades onde estão situados os municípios de São
Bernardo, Maranhão, e Luzilândia e Campo Largo, do lado do Piauí. Ou seja, a
referida fazenda estava encravada em ambas as margens do rio Parnaíba, afirmando
ainda que o “Arraial Velho e a Bitorocara são termos sinônimos da mesma
fazenda”. Baseou-se o novo trabalho no pressuposto de que a Data Arrayal, de
propriedade de Miguel de Carvalho Aguiar, filho do Mestre de Campo Bernardo de
Carvalho, seria a mesma fazenda Bitorocara, cuja denominação passou a ser
mencionada como Arraial Velho.
Por considerar
uma tese simplista, o eminente escritor e poeta campomaiorense Elmar Carvalho discorda
frontalmente dela e alerta que “Arraial (velho ou não) é um topônimo genérico,
e que designa vários locais do Brasil, e também do Piauí”. No caso do Piauí, o
escritor cita, por exemplo, o que deu origem ao município de Jerumenha, o dos
Aroases, o dos Paulistas, o de Nossa Senhora da Conceição, o dos Ávilas, e o
que originou a atual cidade e município de Arraial. Afirma ainda que na fazenda
Bitorocara, entorno da igreja de Santo Antônio do Surubim, formou-se também um
arraial.
Incansável
na sua luta para provar que a velha fazenda de Bernardo de Carvalho e Aguiar
ficava mesmo próximo ao rio Bitorocara, que seria o mesmo Longá. Elmar Carvalho
justifica ainda que, em termos cronológico e documental, Bitorocara jamais
poderia se referir ao Arraial Velho do rio Parnaíba, uma vez que o documento a
este correspondente é datado de 1739, enquanto a referência à fazenda
Bitorocara, apontada pelo Pe. Miguel de Carvalho é de 1697, conforme explicita
em relato publicado sob o título de Descrição do Sertão do Piauí.
Acobertado
pelas provas documentais existentes, o ilustre escritor e poeta afirma sem
rodeios que:
“O certo é que o Arraial Velho que deu
origem à cidade de São Bernardo (MA) não é e nem poderia ser o Arraial Velho
que formou a cidade de Campo Maior. ”
E
vai mais além, ao afirmar que o Pe. Miguel de Carvalho, autor do mencionado
relatório, em sua desobriga, “percorreu apenas as terras que ele entendia como
pertencentes à freguesia de Nossa Senhora da Vitória, conforme explicitou o
padre Cláudio Melo em seus comentários (v. bibliografia) ”.
“Ora, se o padre Miguel de Carvalho sequer
percorreu todo o território do atual estado do Piauí, com muito mais razão não
poderia ter ido até os atuais municípios de Brejo e de São Bernardo, no
Maranhão (em cuja região veio a ser situado o Arraial Velho), que pertenciam a
outra jurisdição eclesiástica. Consequentemente, a fazenda Bitorocara a que ele
se referiu em seu relatório ficava mesmo no rio Longá, perto de onde fica a
atual cidade de Campo Maior. ”
Ao
final do capítulo III do seu livro “Bernardo de Carvalho O Fundador de
Bitorocara, o ilustre escritor, de forma peremptória, conclui:
“Em consequência o arraial militar, ou
arraial, ou ainda arraial velho referente a Campo Maior, que se formou no
entrono ou perto da igreja de Santo Antônio do Surubim, não pode, em hipótese
nenhuma, ser confundido com o Arraial Velho maranhense, localizado perto do
Parnaíba. Mesmo porque Bernardo de Carvalho e Aguiar, último mestre de campo
das Conquistas do Piauí e do Maranhão só se mudou para atual cidade de São
Bernardo, da qual é considerado fundador, em 1721, quando deixou o cargo.
A fazenda Bitorocara, portanto, ante tudo o
que expusemos, ficava na confluência dos rios Longá, Surubim e Jenipapo, o que,
admitamos, era estratégico, uma vez que haveria suprimento de água para consumo
humano e do gado, e para a formação de pastagem, além de que seriam evitados
problemas com eventuais confrontantes, porquanto os limites ficariam bem
estabelecidos por esses cursos d’água”.
Diante
dessas breves anotações não há como duvidar da existência da fazenda
Bitorocara, que se transformou em Arraial Velho, local onde foi construído um
templo dedicado a Santo Antônio. Sua localização na confluência dos rios Longa
(Bitorocara) e Surubim é incontestável, tomando-se por base as tratativas do
insigne poeta e escritor campo-maiorense Elmar Carvalho, baseadas em pesquisas
realizadas em registros históricos da lavra de respeitáveis historiadores
piauienses como os Pe. Miguel Carvalho e Cláudio Melo. Ademais, o ilustre
escritor João Alves Filho, o historiador Gilberto de Abreu Sodré Carvalho e o
cronista Antônio Francisco de Sousa defendem e comungam da argumentação
defendida por Elmar Carvalho. E,por tudo que li até agora sobre o assunto,
acredito piamente que a fazenda Bitorocara realmente existiu nas confluências
dos rios Longá e Surubim. “SITUAR BITOROCARA É FÁCIL, ESTÁ NA CARA”, como diria
meu amigo Francisco Almeida, grande cordelista e Advogado da União, em sua mais
recente obra publicada no Blog do Elmar Carvalho.
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