quinta-feira, 27 de julho de 2017

O Curador na rota do Comandante Magalhães de Almeida





(José Pedro Araújo)

Diferentemente dos administradores que passaram pelo governo maranhense, Magalhães de Almeida era um homem dado à grandes aventuras. Talvez isso se devesse à sua condição de militar, posto ser ele um comandante da marinha brasileira. Nascido em Codó, em 1883, residiu por mais de cinco anos na Europa enquanto acompanhava a fabricação de navios para a armada brasileira, daí, talvez, a sua percepção progressista, mormente quanto à educação, mas, e principalmente, no tocante a abertura de estradas, como motor desenvolvimentista. Atento às deficiências do estado, logo viu que a falta de comunicação entre as várias regiões do estado trabalhava fortemente em favor do atraso, especialmente ao impedir o escoamento da grande produção agrícola e pecuária que existia nas diversas regiões do Maranhão. Apenas para exemplificar essa dificuldade, basta dizer que a capital, São Luís, vivia isolada do restante dos municípios maranhenses, uma vez que faltava uma ponte que facilitasse o acesso da população interiorana à ilha. E isso, mesmo depois da construção da estrada de ferro Estiva-Flores(Timon). A dita ferrovia se iniciava na Estiva, povoação localizada nas imediações do Estreito dos Mosquitos, e terminava em Flores, hoje Timon. O embarque no trem se dava após a transposição do Canal dos Mosquitos através de barcos, e o seu desembarque em Timon, precedia a tomada de outra embarcação para transpor o rio Parnaíba, e chegar a Teresina, no Piauí.
Depois de passar pelo cargo de Deputado Federal(1921-1926), o capitão-de-corveta José Maria Magalhães de Almeida, elegeu-se para o cargo de Presidente do Estado Maranhão, hoje equivalente ao de Governador. Mas, antes, servira sob as ordens do comandante em chefe da marinha americana durante a primeira grande guerra. Era um homem de muita experiência e visão, achando-se talhado para assumir os destinos do atrasado Maranhão. E o fez com muita competência e desenvoltura, tornando-se um dos mais atuantes governantes brasileiros no período de 1926 - 1930. Magalhães de Almeida foi reconhecido pelo povo do seu estado e hoje é nome de ruas, escolas, avenidas, e até mesmo de um município maranhense. Até mesmo no Rio de Janeiro há uma rua com o seu nome. Ninguém recebe tantas homenagens sem ter prestado grandes serviços. E ele fez isso muito bem.
Até o ano de 1928, penúltimo da sua administração, ele abriu, ou melhorou, cerca de 1.671 km de estradas em todas as regiões do estado, ligando o Parnaíba ao Tonantins por meios de rodovias de boa trafegabilidade. Outros 808 km ele deixou em condições de bom tráfego em várias regiões do estado.  Em dezembro de 1928 o administrador resolveu fazer o reconhecimento e a inauguração das estradas que construiu. Partiu às dez horas da noite de São Luís, de automóvel, e foi até o Estreito dos Mosquitos, na Estiva, demorando-se cerca de duas horas para cumprir o trajeto. Lá deixou o automóvel, fez a travessia de barco para o continente, e embarcou em um trem que o levaria até Coroatá.

Desembarcou às sete da matina na vetusta cidade, e subiu novamente em um automóvel para fazer um périplo pelos municípios do sertão maranhense.  Precisava ter coragem e determinação para realizar uma viagem que já fizera, pelo menos, outra vez. Na viagem anterior, demorara-se 14 dias para concluí-la, tal era as dificuldades de trafegabilidade dos caminhos que encontrou. Nesta, pernoitando, apenas uma vez, em Carolina, concluiu-a em cinco dias.  
Acompanhava a maior autoridade do estado, o irmão, deputado federal Arthur Magalhães de Almeida, e o secretário Clarindo Santiago, relator da viagem que tão bem a registrou. O Irmão, com uma garrafa de café sempre à mão, também fazia às vezes de motorista e fotógrafo, enquanto Clarindo Santiago anotava tudo para transformar em um diário da viagem. Arthur Magalhães fez algumas das fotos mais antigas da então vila do Curador que temos notícia, e que ilustram esta singela crônica. A comitiva iniciou a sua viagem de automóvel em Coroatá, como já afirmamos, e seguiu de lá direto para Pedreiras, estabelecendo-se, então, o seguinte roteiro: Coroatá Pedreiras Mata do Nascimento(D. Pedro) Curador(Pres. Dutra) Barra do Corda Fortaleza dos Nogueiras Carolina Riachão Balsas Loreto Mirador Colinas Curador Mata do Nascimento Codó. Em Codó embarcou novamente no trem com destino a São Luís, capital do estado. Foram gastos no cansativo trajeto, cinco dias, como já afirmamos. Um espanto, para aquela época.
Na vila do Curador, ainda na zona rural, foi recebido pelo Sr. Sebastião Gomes na sua fazenda Fortaleza, conforme registro na foto que faz parte do presente texto. O fazendeiro, à época Subdelegado do Distrito de Curador, principal autoridade local, dirigiu-se com a sua comitiva governamental até a vila, onde a maior autoridade maranhense foi recepcionada pela população local. Foi um momento impar, pois não existe registro de outra personalidade tão marcante ter pisado em terras do velho e isolado Curador.
A comitiva foi recepcionada no largo de São Bento, em frente à capela em construção, tendo sido saudado pelo frei Heliodoro de Inzago, capuchinho sediado em Barra do Corda, que por àquele tempo também passava pelo Curador. Na foto vemos a população trajando as suas melhores roupas para receber as autoridades que passavam pela sua terra. Naquele momento, ao término das palavras do missionário capuchinho, o Presidente do Estado fez uma doação para o término do templo em construção. A capela em questão foi substituída alguns anos depois pela majestosa igreja de São Sebastião, tal como a vemos hoje. Isso teria início em 1943, mais de uma década depois. Mas, essa história já foi aqui contada.
 Esta outra fotografia registra a população cercando o Presidente e comitiva, postados em frente a uma casa que não conseguiu identificar. Não restam dúvidas que foi um momento inesquecível para um povo que via o seu governador transitar pelas novas estradas que faziam a ligação da vila com o restante do estado, tirando-a, de vez, de um isolamento de décadas.
Registre-se aqui que o trecho rodoviário que ligava o Curador a Pedreiras, antigo trajeto feito por quem buscava a capital do estado, muito diferente do traçado que hoje conhecemos, foi aberto em 1923, e agora havia sido melhorado e adaptado para o tráfego de veículos automotor. Por sua vez, a viagem do Curador a Barra do Corda possuía também trajeto bem mais longo e diferente, passando pelo Tuntum. A trecho rodoviário com esse formato media 177 km, quase o dobro dos atuais 98 km que precisamos transitar hoje para chegar ao mesmo destino.
Os diversos trechos rodoviários que o Presidente do Estado inaugurava então haviam sido construídos por vários contratantes. Eles se utilizavam de mão-de-obra local para a sua execução. Como não existiam, por aquele tempo, máquinas de terraplenagem ou os tratores de esteira que temos hoje, todo o trabalho era realizado com pás, picaretas, enxadas, machados, foices e carros-de-mão. Toda a terra removida era transportada em lombo de animais. O trabalho de rebaixamento de um morro, por exemplo, era uma atividade árdua e que demandava muito esforço e uma boa dose de sofrimento, além de tempo para ser concluído. As pontes, por sua vez, eram construídas de madeira, felizmente um material abundante na região. O trecho rodoviário de Colinas até o Curador, por exemplo, foi realizado pelo senhor Antônio Castro, por empreitada.
Ao deixar a Presidência do estado, Magalhães de Almeida voltou a ocupar a sua vaga no senado federal, cargo do qual se licenciara para concorrer à Presidência do estado, desempenhando-o até 1934. No período de 1935-1937 ele ocupou o mandato de deputado federal, último cargo eletivo que ele desempenhou e que foi interrompido pela ditadura Vargas.
O Comandante José Maria Magalhães de Almeida, ou simplesmente Magalhães de Almeida, como ficou conhecido por todos os maranhenses, faleceu na cidade do Rio de Janeiro no dia 4 de outubro de 1945. Contava à época com pouco mais de 62 anos de idade, e estava em pleno vigor físico.



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