Família Araújo - Mamãe, nora, netos, esposos e esposas de netas(o) e bisnetos(uma a caminho) |
José Pedro de Araújo
Filho
Levei muito tempo, meu querido,
para escrever algumas linhas sobre a sua pessoa, pois, sempre que começava algo
assim, a emoção se abatia sobre mim com a força de um tornado e dominava tudo com
força irremovível. E isso se deu por um longo período. Somente poucos anos
atrás consegui super as emoções e dei início à redação de algumas passagens
sobre o senhor e chegar até ao fim do que redigia, à custa de muita fadiga. Assim
aconteceu com a crônica “Atravessando o Parnaíba no Lombo da Maria Fumaça”, ou
mesmo o texto “Um Exímio Contador de Histórias”, ambos publicadas no blog
Folhas Avulsas. Hoje, as lembranças continuam muito fortes, mas já consigo, se
não acostumar-me com a sua perda, pelo menos conviver com mais tranquilidade
com isso. Não foi uma tarefa das mais fáceis, como pode ver, mas consegui
avançar desta vez e conclui o que me propunha a fazer. Hoje, dia do seu
nonagésimo aniversário de nascimento, (completado nesse dia 17/02), envio-lhe a
presente missiva para lhe dar conta de como andam as coisas por aqui.
E começo dizendo que a família que aqui deixou
está em franco crescimento. Desde a sua partida para a glória, alguns netos
nasceram, e os primeiros até já constituíram suas próprias famílias, e também geram
os seus primeiros bisnetos. Oito no total, para ser mais preciso. Seis dos
quais do sexo feminino, e, diferentemente da sua própria prole, na qual havia
uma supremacia masculina, agora nos veio uma ampla maioria de mulheres. Pra
exemplificar como este crescimento está sendo constante, basta dizer que já temos
mais um, ou uma, a caminho. De forma que o que começou com cinco, já são vinte
e oito, e ainda esperamos por muitos mais. Outro fato interessante nisso, é que
todos os seus bisnetos residem no seu estado natal, fizeram o caminho de volta,
caminho que palmilhaste lá pelo distante ano de 1951.
Do mesmo modo, como era da sua
vontade, todos os netos, com exceção de um lindo rapazinho que nos veio com a
formatação um pouco diferente dos demais, mas que é um dos mais queridos de
todos nós, os outros cursaram ou cursam uma faculdade. O esforço que o senhor empreendeu
para nos enviar para a capital para que pudéssemos continuar os estudos valeu
demais. Não restam dúvidas que alcançamos um patamar diferente do que o que nos
estaria reservado se permanecêssemos no interior, e ao seu gosto. Estão todos
em busca do seu próprio lugar ao sol também e com boas perspectivas.
A sua marca continua sendo forte
e respeitada; quanto ao seu legado, tentamos honrar e conferir-lhe novas
vitórias. Mas, não posso negar, a sua falta é sentida a cada dia que nasce, a
cada manhã que nos recebe com raios solares brilhantes e aquecedores. Tentamos
conviver com isso da melhor maneira possível, mas, muitas vezes, sucumbimos às
nossas fraquezas e nos abatemos muito para, em seguida, levantar a fronte e
seguir adiante com altivez e denodo, como era do seu feitio também. Não repare
nisso, pois nos acostumamos a tê-lo como nosso comandante, abrindo caminhos e
facilitando as nossas vidas. Foi necessário, assim, que nos reinventássemos como
pessoas, e passássemos a abrir as nossas próprias picadas nessa selva difícil
que é o mundo. Estamos conseguindo, pois, um Araújo jamais baixa a fronte e se
dá por vencido.
Acredito que o senhor ficaria
satisfeito com os rumos que demos às nossas existências. Acredito mesmo que o
jovem que saiu do sertão do Piauí para se estabelecer naquele interior de
difícil acesso, no sertão mais profundo do Maranhão, àquela época também em
começo de ascensão como município recém-instalado, ficaria satisfeito com o que
conseguiu fazer com muita determinação, coragem e honestidade. A propósito
disto, em certo município piauiense, testemunhei um fato inusitado - e até
mesmo exagerado e de muito mau gosto – levado a cabo por um pai orgulhoso da
família que constituiu: na parede frontal da sua casa, mandou constar em letras
em caixa alta e devidamente esculpidas na argamassa, o nome de cada um de seus
filhos, a sua formação profissional e o cargo que ocupava. Estava lá, desenhado
no reboco, a marca da sua própria vitória. Orgulhava-se aquele homem de ter
conseguido aquele feito notável para uma família constituída de tantos filhos e
em local tão ermo. Feliz e realizado, queria ele que todos tomassem conhecimento
das suas lutas travadas e vencidas. Como já afirmei acima, achei naquele
momento algo de extremo exagero e uma ostentação desnecessária. Depois, quando
os meus próprios filhos começaram a vencer as suas próprias batalhas, divulgava
os feitos alcançados por eles aos amigos com desusada paixão e orgulho. E
acredito mesmo que tivesse coragem suficiente para estampar o nome de cada um
deles, além das suas glórias, na parede frontal da minha casa, não estivesse ela
escondida por trás de um muro.
Obviamente, isso é apenas uma forma
de lhe dizer o quanto estamos orgulhosos e agradecidos com o que Deus nos tem
proporcionado. E continuamos batalhando dia-a-dia, mês-a-mês, ano-a-ano, para
consolidar esses ganhos. Essa é outra coisa que aprendemos com o senhor: nunca
esperar que as coisas aconteçam por si só; que a providência nos dê de mão
beijada, e de graça, tudo o que almejamos. Vamos atrás das nossas conquista com
ardor, mas sem açodamento, sem pisar em ninguém, e sem desejar o que é do
próximo, como sempre nos ensinavas ao enunciar a passagem bíblica em que o rei
Acabe desejou e tomou para si a vinha de Nabote.
Os tempos por aqui estão
difíceis. O mundo está cada vez mais competitivo, e nesse aspecto, mais injusto
também. Mas, vamos remando o nosso barco sob o comando da nossa timoneira que
aqui ficou e tomou nas mãos a liderança: a nossa mãe, a sua venerada esposa, já
agora um pouco alquebrada e afligida por doenças próprias da idade, mas ainda
com muita fé e confiança no Nosso Senhor e no futuro. Sob a sua liderança vamos
seguindo sobranceiros.
Vou encerrar dizendo que
gostaríamos imensamente que estivesse por aqui para festejarmos juntos o seu
aniversário de 90 anos. Exatamente no dia em que uma de suas bisnetas completa
o seu primeiro mês de vida. Seria a
glória suprema. Mas, respeitamos e glorificamos os desígnios de Deus, mais um
dos seus ensinamentos. Então, até o nosso próximo encontro.
Com amor.
Do seu filho mais velho.
Dr. Araújo,
ResponderExcluirConfesso-lhe que fiquei muito emocionado ao ler essa belíssima crônica em homenagem ao seu pai, Sr. José Pedro, exemplo de pai, esposo, cidadão e cristão.
Também gostaria de escrever algo semelhante em alusão ao meu pai Francisco, mais conhecido como Chico Maroca, evidentemente não com essa maestria de grande romancista e cronista que lhe peculiar. Quiçá algum dia; quem sabe!
Parabéns e um grande abraço.
Obrigado, Chico Carlos. Sem dúvidas, foi um homem de incontáveis virtudes. A sua falta me deixou o sentimento de que a minha criação ficou inconclusa. Conheci o seu pai e sei também do homem excepcional que foi. Um forte abraço.
ExcluirMuito bem elaborada sua cronica caro amigo Pedro araujo vc esta de parabéns continue sempre assim com suas ideias inspiradoras e emocionante um grande abraço 👏
ResponderExcluirObrigado amigo,
Excluiro estímulo de vocês é o que faz tentar!