domingo, 15 de março de 2015

A RUA PROIBIDA


José Pedro de Araújo
                        
 Para homens ainda jovens(em certos casos até para os mais velhos também), reveste-se esse tipo de ambiente de atração incalculável, uma força atrativa qual remanso de rio caudaloso. Para as mulheres, de todas as idades, não passa de um ambiente pernicioso e degradante, uma porta para o inferno, na opinião das mais carolas. Estou me referindo à rua das mulheres perdidas, o conhecido cabaré ou casa das messalinas, no dizer dos mais engajados com a língua pátria. Que cidadezinha, por mais chinfrim que seja, não possui o seu “brega” para diversão dos mais “devassos”, ou para a iniciação dos mais jovens e inexperientes?

Via de regra, o lugar fica em uma ponta de rua, como se estivesse a se esconder das vistas das pessoas mais respeitáveis.  De minha parte, diria que a sua posição mais isolada, longe da parte mais residencial da cidade, é um artifício para que os homens de “vergonha” possam procurar as mulheres de “vida mundana”, sem serem vistos, às escondidas, mantendo intacto o seu respeito. Não é incomum que homens na idade em que a libido age de forma avassaladora sobre eles, procuram as tais mulheres “desclassificadas” na calada da noite, longe das vistas de suas amantíssimas esposas. Depois, sob os reflexos da luz vermelha e atraídos pelo cheiro de suor das mulheres de saia curta e decotes monumentais, esbaldam-se nas danças e bebedeiras, igualando-se à ralé que tanto repudiam.

Presidente Dutra, desde os seus primórdios, sempre contou com o seu ambiente de permissividade. E, em certas épocas, com mais de um. Quem não se lembra daquela velha e conhecida rua que fica logo depois do Murilo Braga, com suas alegres e festivas “Boites”? Sem calçamento, a rua do “rabo da gata”, no linguajar dos mais mais velhos, subia serpenteando ladeira acima, salpicada de pobres casebres desalinhados, a maioria com paredes de taipa e cobertura de palha. Era na mais popular delas que morava a conhecidíssima Maria Palestina, a dama de maior prestígio junto à rapaziada e também a mais longeva de todas. Militou, segundo os mais bem informados, por mais de quarenta anos, fazendo da “mais-antiga-profissão-do-mundo” o seu ganha pão. Haviam muitas outras casas daquela rua que funcionavam como esse intento.

Apesar de pobres, as casas de licenciosidade transbordava de animação, alegria que começava antes mesmo do meio dia, quando a clientela começava a chegar e as damas se punham de pé depois da longa e trabalhosa noite anterior. E, ao som dos cantores ditos bregas, iam atraindo os primeiros clientes como o mel atrai as formigas. Moças de origem humilde, na sua maioria, à falta de qualificação ou de outras propostas de emprego mais nobre, caiam essas moças na vida em busca da sobrevivência.

Novamente de pé, pintadas com batom vermelho sangue, e perfumadas com perfume barato, as damas atraiam a clientela para o salão de chão batido, iniciando a festa que não tinha hora para terminar. Juntavam-se nesse rendez-vous, pobres, ricos, velhos e jovens, numa miscelânea que entrelaçava as classes sociais e etárias em um só aglomerado humano festivo.

Em determinada época, com a chegada dos homens do Batalhão de Engenharia e Construção à cidade, surgiram também outros pontos de atração. Houve até mesmo um aporte de mulheres de diversos municípios em busca dos jovens clientes fardados e endinheirados, para os padrões locais, que desembarcaram também em grande número. Coisa ai por volta das duas centenas. Fundou-se então o Quinze, situado na saída para Barra do Corda, local escolhido porque era ponto de passagem dos novos moradores que na época construíam a estrada para aquele município. Tratava-se de um ambiente um pouco melhorado, com moças importadas até de mesmo de Teresina. Durou pouco tempo, mas fez muito sucesso na época.

Hoje em dia as casas de tolerância não fazem tanto sucesso como antes. A modernidade nos costumes, e a concorrência desleal, diriam alguns, fez diminuir em muito a procura por essas mulheres, pobres criaturas que precisam vender o próprio corpo à falta de outro tipo de trabalho. E, por consequência, as tais Boites hoje estão em franco desaparecimento. Já não é tão fácil encontrar em profusão as chamadas “casas da luz vermelha”. E muito menos uma rua quase inteira voltada ao mesmo ofício, como aquela velha e conhecida rua proibida.
           

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