José Pedro de Araújo
Para
homens ainda jovens(em certos casos até para os mais velhos também), reveste-se
esse tipo de ambiente de atração incalculável, uma força atrativa qual remanso
de rio caudaloso. Para as mulheres, de todas as idades, não passa de um
ambiente pernicioso e degradante, uma porta para o inferno, na opinião das mais
carolas. Estou me referindo à rua das mulheres perdidas, o conhecido cabaré ou
casa das messalinas, no dizer dos mais engajados com a língua pátria. Que
cidadezinha, por mais chinfrim que seja, não possui o seu “brega” para diversão
dos mais “devassos”, ou para a iniciação dos mais jovens e inexperientes?
Via
de regra, o lugar fica em uma ponta de rua, como se estivesse a se esconder das
vistas das pessoas mais respeitáveis. De minha parte, diria que a sua posição mais isolada, longe da parte mais
residencial da cidade, é um artifício para que os homens de “vergonha” possam
procurar as mulheres de “vida mundana”, sem serem vistos, às escondidas,
mantendo intacto o seu respeito. Não é incomum que homens na idade em que a libido age de forma avassaladora
sobre eles, procuram as tais mulheres “desclassificadas” na calada da noite,
longe das vistas de suas amantíssimas esposas. Depois, sob os reflexos da luz
vermelha e atraídos pelo cheiro de suor das mulheres de saia curta e decotes monumentais,
esbaldam-se nas danças e bebedeiras, igualando-se à ralé que tanto repudiam.
Presidente
Dutra, desde os seus primórdios, sempre contou com o seu ambiente de
permissividade. E, em certas épocas, com mais de um. Quem não se lembra daquela
velha e conhecida rua que fica logo depois do Murilo Braga, com suas alegres e
festivas “Boites”? Sem calçamento, a rua do “rabo da gata”, no linguajar dos mais
mais velhos, subia serpenteando ladeira acima, salpicada de pobres casebres
desalinhados, a maioria com paredes de taipa e cobertura de palha. Era na mais popular
delas que morava a conhecidíssima Maria Palestina, a dama de maior prestígio
junto à rapaziada e também a mais longeva de todas. Militou, segundo os mais bem
informados, por mais de quarenta anos, fazendo da
“mais-antiga-profissão-do-mundo” o seu ganha pão. Haviam muitas outras casas daquela rua que funcionavam como esse intento.
Apesar
de pobres, as casas de licenciosidade transbordava de animação, alegria que começava
antes mesmo do meio dia, quando a clientela começava a chegar e as damas se
punham de pé depois da longa e trabalhosa noite anterior. E, ao som dos
cantores ditos bregas, iam atraindo os primeiros clientes como o mel atrai as
formigas. Moças de origem humilde, na sua maioria, à falta de qualificação ou
de outras propostas de emprego mais nobre, caiam essas moças na vida em busca da
sobrevivência.
Novamente
de pé, pintadas com batom vermelho sangue, e perfumadas com perfume barato, as
damas atraiam a clientela para o salão de chão batido, iniciando a festa que
não tinha hora para terminar. Juntavam-se nesse rendez-vous, pobres, ricos, velhos e jovens, numa miscelânea que
entrelaçava as classes sociais e etárias em um só aglomerado humano festivo.
Em
determinada época, com a chegada dos homens do Batalhão de Engenharia e
Construção à cidade, surgiram também outros pontos de atração. Houve até mesmo um
aporte de mulheres de diversos municípios em busca dos jovens clientes fardados
e endinheirados, para os padrões locais, que desembarcaram também em grande
número. Coisa ai por volta das duas centenas. Fundou-se então o Quinze, situado
na saída para Barra do Corda, local escolhido porque era ponto de passagem dos
novos moradores que na época construíam a estrada para aquele município. Tratava-se
de um ambiente um pouco melhorado, com moças importadas até de mesmo de Teresina.
Durou pouco tempo, mas fez muito sucesso na época.
Hoje
em dia as casas de tolerância não fazem tanto sucesso como antes. A modernidade
nos costumes, e a concorrência desleal, diriam alguns, fez diminuir em muito a
procura por essas mulheres, pobres criaturas que precisam vender o próprio
corpo à falta de outro tipo de trabalho. E, por consequência, as tais Boites
hoje estão em franco desaparecimento. Já não é tão fácil encontrar em profusão
as chamadas “casas da luz vermelha”. E muito menos uma rua quase inteira
voltada ao mesmo ofício, como aquela velha e conhecida rua proibida.
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