Sem
querer polemizar com ninguém, sobretudo com aqueles que acham que a leitura de
revistas em quadrinhos mais atrapalha do ajuda a criançada, acredito fortemente
que o gosto que tenho hoje pela leitura adveio das minhas revistinhas e
livretos de aventura. Posso afiançar mesmo que gostava muito, e ainda gosto,
pois continuo lendo todo e qualquer gibi que me cai nas mãos. Atrai-me o cheiro
de tinta fresca que emana das publicações novas. Não dispenso um bom gibi, pois
também evoca lembranças que permaneciam escondidas no mais recôndito espaço da
minha memória. Hoje, a leitura de um bom livro tem uma importância fundamental
na minha vida. Eu diria até que é a minha principal forma de diversão. É
através deles que faço viagens memoráveis pelo mundo inteiro sem sair da
poltrona da minha sala. E a preços módicos. Por conseguinte, a boa leitura é
uma viagem sem o cansaço e sem os custos das que fazemos quando visitamos
outras regiões ou outros países.
Tudo
isso começou quando me deparei com a primeira revistinha do Pato Donald.
Encantei-me com a história singela daquele estabanado bípede emplumado e suas
peripécias incontáveis para ganhar o coração da sua amada, a charmosa pata Margarida.
Depois vieram as revistas do Mickey e do Pateta, as do Zé Carioca e do Tio
Patinhas. Com o tempo, avancei para as de Cowboy, editadas pela EBAL. Depois,
misturei tudo. Vieram a do Zorro, o cavaleiro solitário (Não o de capa e
espada, mas o Lone Ranger) e Tonto, David Crockett, Judas, Tarzan, Roy Rogers, Juvenil
Mensal – com ídolos como Buck Jones, Tim Holt e Tom Mix. Também transitei por
outras HQs como Nevada Kid, Chacal, Epopéia Tri, Durango Kid e, a principal
delas, Tex Willer. Tex, aliás, é uma legenda. Revista italiana criada pelo
roteirista Gian Luigi Bonelli e pelo desenhista Gallep, ainda hoje pode ser
encontrada nas bancas. Existe em todo mundo uma verdadeira legião de leitores
que não permitem que ela desapareça como aconteceu com a maioria dos quadrinhos
que citamos atrás. Eu me incluo entre esses leitores que nas horas vagas
relaxam da dureza da vida apreciando as correrias de Tex Willer, Kit Carson,
Kit Willer e Jack Tigre, contra bandoleiros sanguinários e índios em pé de
guerra.
Aventura
também era conseguir alguma dessas revistas para ler. À falta de uma banca de
revistas no nosso velho e querido Curador, recorríamos a parentes e amigos em
viagem para Teresina, São Luís ou Fortaleza, para lhes pedir que comprasse para
nós alguma das revistinhas de que mais gostávamos. Deixávamos de gastar os
poucos trocados que conseguíamos juntar em outras coisas para poder ter em mãos
um desses livretos mágicos que tanto nos encantava.
Para
superar a falta de uma banca de revistas na cidade, um grupo de leitores organizou
um sistema de trocas que funcionava maravilhosamente bem. Funcionava assim: Ao
término da leitura de uma nova revista, partíamos em busca de algum colega para
lhe propor uma troca por outra ainda não lida. Nesse sistema, as revistas nunca
eram emprestadas, somente trocadas. Depois, lida aquela segunda revista,
recorríamos a outro colega para trocá-la por outro exemplar inédito. E assim, a
revista que havíamos comprado se transformava em várias outras, multiplicando o
nosso suado dinheirinho.
Desgosto
maior mesmo somente quando sabíamos que alguma nova revista ia fazer parte da
coleção que um leitor estava organizando. Ai, adeus! Era pouco provável que
aquele exemplar viesse a ser movimentado na nossa rede de trocas. Os
colecionadores não nos davam nenhuma chance de vir a ler aquela revista tão
ansiada.
Guardo
boas recordações daqueles tempos. Ler uma revista em quadrinhos é um ato de
profunda concentração. Concentração na história, concentração nos detalhes dos
desenhos e, principalmente, concentração no desfecho da trama. São histórias
simples e que não podem ser comparadas à de um bom romance, é bem verdade. Mas,
elas têm o seu charme, a sua beleza plástica, pois engloba a criatividade do
roteirista com a arte do desenhista. Talvez esteja na simplicidade e pureza da
história, o seu maior chamariz, a sua principal atração. Todavia, e sem a
mínima dúvida, está na afirmação do hábito da leitura a sua principal vantagem.
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