sábado, 21 de março de 2015

ETERNO RETORNO






                                                                                                                          (Elmar Carvalho)*

Memória:

Lâmina de desassossego

Cornucópia insana insaciável

A jorrar o passado

Que não morre nunca

Sempre ressuscitado

No eterno regresso

a nós mesmos.



Ó emoções redivivas

e ampliadas

das sensações de nervos expostos

nas carnes pulsantes de um passado

sempre lembrado.



recordações

que dão e são vida

de becos escuros, sem saída

de amores

            hoje boleros

                     bolores em flores

de ilusões perdidas

que se fazem dores

na florida ferida da saudade.



evocações

de dribles esquecidos

de gols frustrados e acontecidos

de um jogo que nunca termina

de uma malsinada sina sinuosa

de lágrimas caudalosas

incontidas, vertidas

das vertentes profundas

do peito – porto

sem tino e sem destino

feito somente de desatino.



as mulheres amadas

na juventude fugaz

            não envelhecem

            não se corrompem

            não morrem jamais

preservadas intactas e belas

na câmara ardente

incandescente da memória.



recordações de fantasmas

que já nos abandonaram

de amigos mortos

que nos acompanham

cada vez mais vivos

de sustos e gritos

de proscritos e malditos

de agouros e assombrações

de desdouros e sombras vãs, malsãs,

oriundos dos porões escavados

nos subterrâneos dos sobrados

       subterfúgios e refúgios

da memória.



O passado poderoso e renitente

retorna e continua vívido e presente

se contorcendo se retorcendo

       e se reacontecendo. 

* Elmar Carvalho é poeta, contista, cronista, crítico cultural, memorialista, juiz aposentado e membro da Academia Piauiense de Letras. 


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