A
arte de trocar e vender gibis na porta dos cinemas antes do início do filme me parece
uma atividade só encontrada em Teresina nos idos dos anos 70. Naquele tempo,
jovens amantes da sétima arte se encaminhavam para a Praça Pedro II, nas tardes
ensolaradas da nossa capital, em busca da sessão das quatro nos cinemas Rex e 4
de Setembro. Gente de todas as partes desembocava na praça, revistas debaixo do
braço, à procura dos “gibizeiros” que faziam seus negócios em frente aos dois
cinemas. A troca de revistas ou a sua compra pura e simples, era atividade comum
naquela época entre os aficionados pelos filmes de Cowboy e os donos das
rudimentares bancas instaladas nas calçadas dos cinemas. As tais bancas, na
verdade, não passavam de simples caixas de madeira, outrora depósitos de maçã,
produto também muito comercializado na praça. E os empresários, os donos das bancas, jovens que expunham suas revistas sobre caixas de “Manzanas Argentinas” cobertas
por um papel de seda roxo, antes envoltório da fruta importada. Nesse ambiente festivo trocavam de mãos as revistas em quadrinhos mais festejadas da época, como as faroestes Juvenil Mensal, David Crockett, Zorro, Durango
Kidd e Roy Rogers, entre tantas outras.
Não
me recordo ter visto costume igual a este em outras cidades por onde passei. A presença de dezenas de jovens refestelados nas poltronas dos cinemas, cada um manuseando
uma revista em quadrinhos enquanto aguardavam o inicio da sessão da tarde, era
um hábito inerente à juventude teresinense. Velhos tempos, belos dias, como
diria o também velho e bom Roberto Carlos. Essa sim era uma prática saudável. Diferentemente
dos dias atuais, quando se vende de tudo no entorno dos cinemas, desde bebida alcoólica até a tradicional pipoca,
antes do inicio das projeções cinematográficas. Atribuo ao hábito da leitura de
gibis, o fato de ser hoje um leitor compulsivo de tudo o que me chega às mãos,
em especial os clássicos da literatura mundial. Mas, o que me propus, quando iniciei este texto com o título acima, foi
falar sobre as pessoas que ficavam do outro lado do balcão improvisado: os
vendedores de revistas em quadrinhos que se estabeleceram na Praça Pedro II, os gibizeiros.
Destes,
alguns ainda hoje exercem a profissão - agora ampliada e renomeada - de
jornaleiro. Pessoas como o conhecido Joel, proprietário das maiores bancas de
jornal da cidade, além de Dentinho e do saudoso Thomaz, que passou a sua
atividade para um dos filhos. Alguns outros, de quem não me recordo o
nome, também comercializam ainda hoje apenas livros e revistas usados. São
remanescentes daquele grupo de jovens que iniciou suas atividades comerciais
com pequenas bancas improvisadas na frente dos dois cinemas mais frequentados
pelos jovens desta cidade.
O
tempo e os novos hábitos da sociedade se encarregaram de fechar as portas
dos dois cinemas. Mas, ainda é possível ver que esses bravos e aguerridos
remanescentes daquela época, continuam a exercer a atividade de jornaleiro nas
imediações da Praça Pedro II, retirando das suas pequenas transações
comerciais, o honesto sustento das suas famílias.
Algum
tempo atrás, um evento importante trouxe de volta a população que lê à velha e
querida Praça Pedro II. A presença dos estandes do 7º SALIPI (Salão do Livro do
Piauí), naquele espaço antes tão frequentado pela população teresinense, foi o
episódio mais marcante da cultura piauiense nos últimos anos. Como foi gostoso
ver legiões de pessoas de todas as idades brotando das ruas que desembocam
naquele quadrilátero, atraídos pelo evento como abelhas em busca do pólen. Bateu uma saudade
imensa daqueles tempos, quando os nossos meninos gibizeiros topavam qualquer
negócio, desde que lhe sobrasse algum para fazer frente às suas despesas do
dia-a-dia.
Dr. Araújo, parabéns por essa belíssima crônica: OS MENINOS "GABIZEIROS" DA PRAÇA PEDRO II. Sua narração me fez voltar ao tempo, mais ou menos ao final da década de 60. Assim, como o nobre amigo, eu também tinha o vício de ler revistas em quadrinhos, conhecidas também como gibis. O sebo de gibis em frente ao Cine Rex e 4 de Setembro, logo após o término das sessões das 3:15 h de domingo, era fantástico; a alegria da garotada e até de adultos. Bons tempos!
ResponderExcluirRecordo-me de um fato que aconteceu comigo e um irmão meu. Estávamos assistindo a um filme das 3:15 no Cine Rex, quando já quase no final achei um monte de revistas que estavam espalhadas no assoalho, cerca 10. Quem acha é o dono, diziam. Escondi esse valioso achado por debaixo da minha surrada camisa da missa. Eu e meu irmão tínhamos vendidos as nossas cadeiras para um casal de namorados que chegaram atrasados. Com isso, ganhamos um dinheirinho que garantiu nossos ingressos para o próximo domingo. Por isso, ficamos sentadinhos em um dos corredores do cinema. Como eu estava dizendo, eu e meu irmão fomos para frente do cinema trocar algumas das referidas revistas que eu já tinha lido. Estava eu todo feliz fazendo um bom negócio, quando apareceram dos garotos bem maiores do que nós pedindo para darem uma olhada nas "minhas revistas", quando eles, de forma grosseira, arrancaram das minhas mãos o meu pequeno tesouro em forma de gibis. Então, eu e meu irmão fomos cabisbaixos para nossa casa que ficava próximo ao Lindolfo Monteiro, na Rua Palmeirinha, lembrando apenas das cenas mais importantes do filme de Faroeste da sessão das 3:15 h daquele malfadado domingo. Passei uns dois domingos sem ir ao cinema. Bons tempos. Chico Carlos.
Eu também andava por ali nesse período. Mas não lembro de ter feito isso! AhAhAh! Bons tempos, Chico Carlos. Outra coisa: o dinheiro da venda dos lugares resistiu por três semanas? Um abraço.
ResponderExcluirGostei do Design deste blog. Depois me passa o contato do Webmaster!
ResponderExcluirO Cara que fez é craque demais! E o preço foi bem camarada.
ExcluirNão só em Juazeiro, pois eu fiz parte desta mania na porta do cine palácio, em Gov, Valadares MG
ResponderExcluirSou carioca e em 1968 eu trocava gibis em frente ao cinema em Nivo Hamburgo, RS, quando voltei pro Rio, em 1970, não encontrei esse costume por aqui. Mas que era legal, era!
ResponderExcluir