sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

LUÍS, O FILHO DO CORAÇÃO.



(Chicoacoram Araújo)

            Foi no início do ano 2000. Não me lembro do dia e nem do mês. Recordo-me que era período de um bom inverno. Cheguei em casa, à noitinha, após mais um dia de trabalho e, ao entrar, observei que na sala havia uma rede armada. No seu bojo, uma pequena criança que dormia. Perguntei à minha esposa, Adilina, de quem era o pequenino. A resposta foi um largo sorriso. Não me disse nada.
           Acordado o menino, prestei atenção de que ele respirava com dificuldade, parecia estar com alguma enfermidade. Tossia muito. Escorria o nariz. Algumas vezes, chorava. Noutras, me olhava. E voltava a chorar. Calava-se, olhava para mim. Tinha um ano e meio de idade. Parecia menos. Estava vestido apenas com calçãozinho de cor desbotada.  Pequenino, magérrimo, pálido, barriga grande, glândulas inchadas, pernas frágeis, alguns furúnculos incomodavam aquele pequeno ser. Não era feio. Com as feições bonitas, os cabelos negros e lisos realçavam o seu rosto, que lembrava um curumim. Sua saúde era precária. Necessitava de cuidados médicos. Esse foi o motivo da vinda inusitada do hóspede.
            Contou-me minha esposa, no dia seguinte, que o havia levado ao médico.
       O garoto estava, de fato, muito debilitado. O diagnóstico apontava pneumonia, subnutrição e outros problemas de saúde a mais. Diante desse quadro, o Doutor receitou vários medicamentos e uma boa alimentação rica em vitaminas e proteínas. Tudo isso me foi relatado, à noite, por Adilina. Disse-me ainda que já havia comprado os remédios e alimentado a  criança, na forma recomendada pelo médico. Falou também que, no dia seguinte, levaria a criança de volta para a mãe.
        Mas a mãe da criança era muito pobre. Chamava-se Antônia. Morava em um casebre de taipa, localizado em uma vila, ao redor do bairro onde residia minha família. Tinha outros filhos menores ainda, e trabalhava como doméstica. Assoberbada pelo trabalho, só retornava à noite. As crianças ficavam sozinhas o dia todo, sem alimentação. Os vizinhos, penalizados, eventualmente davam às crianças algum tipo de comida. As condições de vida da mãe e das crianças eram, realmente, paupérrimas.
          Dentre esses vizinhos, estava Maria, irmã de minha esposa, que sempre que podia alimentava aquelas crianças. Esta morava em frente da casa da mãe dos pequenos. Como minha esposa habitualmente visitava sua irmã, em uma dessas visitas ela conheceu as pequenas criaturas, que pelas ruas estreitas da vila perambulavam. Um dia, em uma de suas visitas percebeu a ausência de uma delas, o menorzinho. Indagou da sua irmã Maria onde se encontrava o garoto. Esta respondeu que ele estava muito doente, prostrado em uma velha rede no casebre em frente. Estava sozinho. A mãe tinha ido trabalhar.
            Adilina, vendo que a saúde do garoto era preocupante levou-o imediatamente para o  hospital do bairro, alertando sua irmã que avisasse Antônia.  Depois de a criança ser medicada superficialmente pelo médico, Adilina tomou a decisão de levá-la para nossa casa. Foi assim, que a história do Luís começou.
            No dia seguinte, choveu.  Torrencialmente. Não foi possível levar o garoto para sua casa. Decidiu-se levá-lo no próximo dia, que, por algum motivo, também não foi possível. Vários dias se passaram sem que o pequeno hóspede fosse embora. A mãe, por sua vez, também não apareceu para levar o filho. Fiquei preocupado. Mandei chamá-la. Esta, depois de reiterados convites, enfim veio receber o filho ausente. Nessa cena, ao final da uma tarde de inverno, na calçada da minha casa, encontravam-se, além de mim e a mãe do Luís, minha esposa, a cunhada Maria e meus três filhos adolescentes: Josy, Vitor e Patrícia. 
     No momento da despedida do pequeno hóspede aconteceu um fenômeno extraordinário. Acredito que tudo o que acontece na vida das pessoas tem um propósito. Neste caso, acredito piamente que há um desígnio de Deus. Mas há também um propósito. Ou não?  “O coração tem razões que a própria razão desconhece”, disse alguém. 
  Meus três filhos protestaram veementemente a devolução do Luís à sua mãe. “Papai, você vai deixar essa mulher levar o Luís?” Fiquei surpreso com tal reação. O Luís já havia cativado os corações de todos de casa. Foi aí que compreendi que o Luís era o meu quarto filho. O Luís, o filho do coração. Entendi, também, que a mãe do Luís aceitou a separação do filho convencida que este teria uma boa educação e um futuro auspicioso com a nova família.  E esta é a missão que Deus confiou à minha família: educar o Luís, sem medir esforços, no sentido que ele seja, no futuro, um bom cristão, bom cidadão, e um profissional respeitado por todos.
       Hoje, o Luís está com 13 anos. Chama-se LUÍS HENRIQUE. Nome de Rei. É inteligente, meigo e tem um carisma muito grande junto às crianças. É estudante da 7ª série da Escola São José. Não se dedica muito aos estudos como eu gostaria. Mas é um bom filho.  Tenho a convicção que, com ajuda dos irmãos desta grande Igreja Batista e do grande Pai, Luís Henrique se transformará em um bom estudante, pois atencioso e obediente aos pais que é, logo será uma pessoa da mais alta respeitabilidade na comunidade. Para finalizar, citarei uma frase tirada do livro o “Pequeno Príncipe” que diz mais ou menos assim: “quando tu cativas alguém, tu és responsável por ela para sempre”. Amém.



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