sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Um Caçador em Apuros (1)




                                                                                  


(José Pedro Araújo)

Apesar de se tratar de uma atividade ilegal, capitulada em lei como crime contra a fauna, o hábito de se procederem caçadas ainda é utilizado por muitas pessoas, desde aqueles que fazem do ofício uma complementação da alimentação da família, quanto por aqueles que exercem o mister com o propósito da diversão. Seguindo este raciocínio, podemos afirmar que existem os caçadores de rolinhas, nhambus, perdizes, patos selvagens e codornizes - prática exercida à luz do dia -, como também aqueles que passam a noite ao relento, trepado em alguma árvore para esperar pelo aparecimento de caça de grande porte, como o veado, o porco–do-mato ou a paca. Estes são os mais fanáticos e, no que pese as penalidades da lei, sempre encontram um jeito de se safarem. Assim como tem caçadores pobres, tem também empresários, médicos, advogados, engenheiros, profissionais de todas as áreas do conhecimento. E são esses os que mais se identificam com a arte da caçada. Tem gente que até viaja para fora do país para praticar a arte em um local mais tolerante.

Certa vez, um empresário bem sucedido aqui de Teresina viajou para a região de Grajaú, extremo oeste do Maranhão, lugar de grande ocorrência de animais selvagens, para participar de uma caçada com alguns amigos. A bem da verdade, o indivíduo a que nos referimos, não poderia ser classificado como um caçador experiente, pois apenas se aventurara até então a caçar aves à luz do dia, nunca tendo participado de uma caçada noturna, atividade mais perigosa e desempenhada apenas pelos mais experimentados. Mas, estimulado por um irmão que havia pintado com cores muito bonitas o quadro, resolveu participar da empreitada quando soube que um grupo de pessoas estava se organizado para viajar para a região acima referida. A base em que a comitiva se arrancharia era a fazenda de um conhecido empresário grajauense, local de difícil acesso, no mais profundo da mata. O local fora escolhido por ainda ser habitado por veados de todos os tipos e tamanhos, e também por outros tipos de animais. E dentre este, por ferozes onças de muitas espécies.

Causou espanto aos experientes caçadores, a presença entre eles daquele novato, totalmente desprovido de experiência. Todavia, o noviço era um sujeito de gestos afáveis e possuidor de uma prosa bem animada, e logo caiu nas graças dos outros membros do grupo. A caçada em espera, como já afirmei no começo desta prosa, é realizada à noite. Os caçadores se dirigem ainda de dia para locais previamente determinados, sobem em árvores e lá no alto armam uma pequena rede, apropriada somente para essas ocasiões, e lá ficam sentados, pois o seu formato e tamanho não permite que se acomodem melhor. Ficam por horas assim a esperar pela caça que vem comer as flores e os frutos de uma árvore chamada Mirindiba, logo que a noite se aprofunda.      
 E ficam lá no alto também para escapar, eles próprios, de serem comidos pelas ferozes onças que andam em perseguição aos outros animais e que procuram exatamente esse local de repasto para armar a sua tocaia e matar a fome.
Quando a tarde se aproximava do fim e o sol se apresentava baixo, mas ainda por sobre a copa das árvores, era a hora dos caçadores saírem à procura dos locais das suas esperas. E assim aconteceu. Depois de empreenderem uma caminhada de pouco mais de uma hora, os primeiros caçadores foram se desligando do grupo principal. Haviam chegado ao seu local de pernoite. O restante não poderia se demorar muito ali, uma vez que o sol declinava no horizonte e a escuridão principiava sob a copa das árvores. Por conta disto, apenas um deles ficava para trás, e o restante já seguia apressadamente os passos do guia que ia deixando cada um dos aventureiros na sua espera. A distância entre uma espera e a outra era de não menos do que quinhentos metros, para evitar interferência de uma à outra.
O nosso caçador iniciante foi o primeiro a ser deixado para trás. Próximo a uma árvore bastante alta que ficava estrategicamente colocada colada à árvore de espera, ponto de atração de veados e porcos-do-mato.
Logo cedo, é bom que se diga, o nosso caçador causou espanto aos demais ao se apresentar vestido igual ao Rambo dos filmes americano de ação. Calçava pesadas botas e vestia calças e colete com muitos e largos bolsos. Para completar o quadro usava um chapéu camuflado e de abas bastante largas enterrado na cabeça, e barbicacho preso ao queixo. O homem trazia ainda cruzadas sobre o peito duas cartucheiras cheias de cartuchos. Mas não apenas isto. Atado à cintura, qual um pistoleiro do velho oeste, trazia um cinturão cheio de balas e um revólver trinta e oito pendendo ao lado. E do lado contrário, um cantil pendia bem abastecido de água. Mas o exagero não terminava ai. Para completar o quadro, o novato carregava no ombro uma pesada espingarda de caça, novinha em folha, e pronta para ser usada pela primeira vez em uma caçada, além de uma pesada mochila atada às costas. 
Pequeno em estatura, o projeto de caçador apresentou-se sobrecarregado, fato que foi observado pelo restante do grupo. Mas o homem não aceitou as ponderações e lançou-se no caminho, seguindo os passos do guia. Não demorou muito e o sobe-e-desce do precário caminho seguido por eles fez com que o caminhante ficasse para trás. Apresentava os primeiros sinais de cansaço. Nesse instante, foi socorrido pelo voluntarioso guia que, mais alguns minutos passados, já transportava quase toda a tralha do afoito caçador. (continua na próxima postagem).

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